O PÁSSARO E A GAIOLA  

Manhã morna de domingo, o sol já despontava no horizonte e irradiava os seus primeiros raios, quando resolvi dar uma caminhada em torno do meu condomínio, tanto para melhorar o meu condicionamento físico quanto para relaxar, pois as medidas restritivas impostas pela pandemia acabam criando uma prisão em nossas próprias cabeças, e todos precisam se movimentar para experimentar a sensação de ir e vir, de liberdade. O percurso todo seria em torno de 2 km.

Fiz alguns aquecimentos e depois passei a caminhar em alta velocidade. No percurso parava um pouco para respirar e depois disparava uns gatilhos de corrida, correndo cerca de 30 segundo, e assim, revezava-me em caminhada e corrida rápidas.

Após ter completado duas voltas em torno do condomínio, parei um pouco para respirar e percebi ao lado uma janela aberta onde estava dependurada uma gaiola e, dentro dela, um pássaro bonito, multicor. Aproximei-me e fiquei olhando para o pássaro aprisionado. Ele me olhou e seu canto muito triste tocou fundo o meu coração. Seria um pedido de socorro? A vontade que eu tinha era adentrar na casa e soltar aquele pobre coitado que estava cumprindo pena sem ter cometido um crime sequer.

O que passa nas cabeças das pessoas que criam pássaros nas gaiolas? Será que não percebem que esse ato de aprisionar um pássaro na gaiola para ouvi-lo cantar é uma das maiores expressões do egoísmo do ser humano? Deve ser bom para o algoz acordar cedo e ouvir diariamente o dia o canto triste e suplicante de um pássaro… Não importa se ele chora, não importa se seu canto é triste; o importante é que ele canta bem e enfeita os ouvidos do dono.

Continuei andando e ainda cheguei a olhar para trás para ver se ainda conseguia enxergar o pássaro triste, mas não mais consegui vê-lo, apenas ouvia ainda o seu canto triste. E aquele canto me fazia lembrar que Deus criou os pássaros para serem livres, voar, cantar alegre em liberdade, enfeitar a natureza com suas cores variadas e brilhantes.

Aquele pássaro triste enxergava árvores ao seu redor e outros pássaros que voavam próximos, mas aquele cárcere minúsculo da gaiola o impedia de chegar aos outros, de voar como os outros, de pousar nas árvores como os outros: as árvores são seu aconchego e as nuvens são seu limite. Seu canto deve ser de alegria, não de tristeza.

Quando se coloca um pássaro dentro de uma gaiola, não se prende apenas o seu corpo físico, mas sobretudo a sua alma libertária, sufocando seu canto, natural e alegre, sinfonia da natureza!

 

MARCOS BANDEIRA

 

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