RIO MORTO

Cyro de Mattos*

Vejo tua face invisível

Na claridade das águas,

Espumas lavadeiras nas pedras

Diversicoloridias de roupas.

O céu azul de nuvens mansas.

A lua derramando prata

No areal deixado pela cheia.

Eu sou aquele menino

Que engoliu tua piaba

Para aprender a nadar.

Eu sou aquele menino

Que pegou tuas borboletas

Nos barrancos voando em bando

Eu sou aquele menino

Que sentiu com tuas boninas

A proposta livre da vida.

Eu sou aquele menino

Magro, esperto, traquino

Em tua paisagem luminosa.

Não havia, amor, dúvida,

Ares sombrios pegajosos

Cobrindo tua ilha com tesouro

Guardada por almas de piratas.

Nessa manhã de banho ausente,

Susto nos peraus e remansos,

O sol sem vidrilhar a correnteza,

Tristes meus olhos testemunham

Tua descida pobre e monótona.

Tua morte lentamente com sede

Inventada nas bocas de vômito…

Cachoeira o teu nome

Do rio que chora água.

Cyro de Matos é poeta, escritor, membro da academia de letras da Bahia e da Academia de Letras de Itabuna.

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